quarta-feira, 16 de novembro de 2011


Almodóvar não é uma unanimidade, ainda bem. Outro dia um cidadão daqui do face me perguntou, você é "daquelas" que gosta do Almodóvar? Sou, incondicionalmente. A conversa não rendeu. Em "La piel que habito" ele faz uma pergunta simples: qual o maior castigo para um estuprador? E responde: ser uma mulher. Mas nada no universo almodovariano é maniqueísta ou simples. Nem o estuprador era exatamente um estuprador e nem o castigo foi tão castigo. Em "Hable con ella" ele já tinha prescrutado estes abismos, o que foi, tecnicamente, um estupro da bailarina em coma, foi o que a salvou pelo amor sem medidas do enfermeiro apaixonado. Almodóvar sabe perguntar e sabe da impossíbilidade das respostas fáceis já que o que existe sob la piel que habitamos é complexo, imenso e que, no encontro com o outro, tudo reverbera de maneiras insólitas, inusitadas, impossíveis de prever. O que há sob la piel que habitamos é como os filmes do Almodóvar: exagerado, colorido, dramático, selvagem, cruel, delicado, desconhecido. Sem falar na Marisa Paredes tal qual uma figura lorquiana, meio Yerma, dizendo la locura está en mi utero, e aquele tigre!!!! A criatura que mata o criador, Galatéia se vinga de Pigmaleão, a homenagem às escritoras mulheres, a crudelíssima Alice Munro. Aplaudo. E recomendo.

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