Travessia,
por Lélia Almeida.
Ele
me levou para conhecer a praia. Uma praia tranquila e cheia de gaivotas. Entrei
imediatamente no mar, ignorando a água fria e a resistência dele com o mar.
Depois de uns dias ensolarados e de mar calmo ele decidiu entrar comigo.
Expliquei que depois da arrebentação as águas sempre são plácidas e tranquilas,
que não tivesse medo, que confiasse em mim, eu que amo nadar em mar aberto e ficar
muitas horas dentro d’água. Ele conseguiu me acompanhar, mas não conseguiu
passar da arrebentação das ondas e ali ficou lutando e se defendendo sem
conseguir ir além. Bastava um mergulho e passar para o outro lugar aquele. Ele
ficou lutando contra as ondas que rebentavam sobre ele. E nunca mais saiu dali.
Então nadei, nadei para muito longe, dias e noites, atravessei os oceanos,
noites estreladas, dias chuvosos e outros ensolarados, guiada pelo vento, por
golfinhos e cardumes de peixes fosforescentes. Atravessei o mundo e quando
cheguei novamente à terra firme sacudi a cabeleira de algas numinosas e
caminhei certa e leve sabendo que as peixas, as ondinas e as sereias nunca se
perdem e jamais morrem na praia.
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