sexta-feira, 23 de outubro de 2015



Travessia, por Lélia Almeida.


Ele me levou para conhecer a praia. Uma praia tranquila e cheia de gaivotas. Entrei imediatamente no mar, ignorando a água fria e a resistência dele com o mar. Depois de uns dias ensolarados e de mar calmo ele decidiu entrar comigo. Expliquei que depois da arrebentação as águas sempre são plácidas e tranquilas, que não tivesse medo, que confiasse em mim, eu que amo nadar em mar aberto e ficar muitas horas dentro d’água. Ele conseguiu me acompanhar, mas não conseguiu passar da arrebentação das ondas e ali ficou lutando e se defendendo sem conseguir ir além. Bastava um mergulho e passar para o outro lugar aquele. Ele ficou lutando contra as ondas que rebentavam sobre ele. E nunca mais saiu dali. Então nadei, nadei para muito longe, dias e noites, atravessei os oceanos, noites estreladas, dias chuvosos e outros ensolarados, guiada pelo vento, por golfinhos e cardumes de peixes fosforescentes. Atravessei o mundo e quando cheguei novamente à terra firme sacudi a cabeleira de algas numinosas e caminhei certa e leve sabendo que as peixas, as ondinas e as sereias nunca se perdem e jamais morrem na praia.

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