domingo, 15 de novembro de 2015


As cidades são os nossos amores, por Lélia Almeida.

Tem muitos lugares que gostaria de viver, ou de voltar a viver. Barcelona, Mendoza, Brasília, Londres e outros mais. O que nos encanta nas cidades são as experiências vividas e as pessoas com quem convivemos nelas. Porto Alegre, neste momento, é a minha cidade de eleição. Onde reencontrei amigos do tempo da faculdade, ex-alunos, primos amados, e que nos devolvem uma memória preciosa que só nós conhecemos como guardiões sagrados da nossa simples existência. Devolvem-nos memórias preciosas e lembramos quem somos e assim estamos salvaguardados. As cidades ficam imantadas de amor por conta da nossa memória afetiva e das histórias que vivemos com quem amamos, convivemos e crescemos. As cidades e os nossos amores se misturam.
Há exatamente um ano fiz uma sessão de autógrafo no Centro Cultural CEEE - Erico Verissimo. Hoje fiz o mesmo caminho para a Rua da Praia, saindo do Mercado e chegando ao Centro Cultural. O “Café A Brasileira” estava fechado, fiquei olhando a fechada do prédio e senti uma paz indizível dentro de mim. Cheguei ao Centro Cultural e estava em Porto Alegre de novo, na Feira do Livro que eu tanto amo, indo dar uma palestra como faço há mais de vinte anos. Nada doía. Éramos eu e a cidade num domingo quente e ensolarado, e nada mais.
No dia 4 de novembro do ano passado, na sessão de autógrafos estavam ele e a minha amigona de toda a vida, a Ana Ana Luiza De Moraes Vieira, que estava hoje no mesmo lugar comigo ouvindo a minha palestra. No ano passado, depois da sessão de autógrafos, eu ia para um sarau literário encontrar com a Karla Melo e com o Samarone Lima. Despedi-me da Ana e desci com ele para tomarmos uma água antes do sarau. Na porta do prédio encontrei com o Taylor Diniz que me disse que estava indo ver o Miguel Sousa Tavares. Não fui ao sarau e não fui à palestra, fui tomar uma água com ele no “A Brasileira”.
As parcas estavam tecendo, quem sabe distraídas ou cansadas, tramando tantas malhas ao mesmo tempo. Mas fui eu quem escolheu. Fui tomar uma água com ele no “A Brasileira”. E nunca me perguntei o que teria sido da minha vida se tivesse ido ver a palestra do português ou se tivesse ido ao sarau.

Eu escolhi. Foi uma escolha minha e nada mais. A vida é assim. E não há outro jeito de vivê-la. Que as experiências tem prazo de validade e nenhum certificado de garantia.

Nenhum comentário: