As
cidades são os nossos amores, por Lélia Almeida.
Tem muitos lugares que gostaria de
viver, ou de voltar a viver. Barcelona, Mendoza, Brasília, Londres e outros
mais. O que nos encanta nas cidades são as experiências vividas e as pessoas
com quem convivemos nelas. Porto Alegre, neste momento, é a minha cidade de
eleição. Onde reencontrei amigos do tempo da faculdade, ex-alunos, primos
amados, e que nos devolvem uma memória preciosa que só nós conhecemos como
guardiões sagrados da nossa simples existência. Devolvem-nos memórias preciosas
e lembramos quem somos e assim estamos salvaguardados. As cidades ficam
imantadas de amor por conta da nossa memória afetiva e das histórias que
vivemos com quem amamos, convivemos e crescemos. As cidades e os nossos amores
se misturam.
Há exatamente um ano fiz uma sessão de
autógrafo no Centro Cultural CEEE - Erico Verissimo. Hoje fiz o mesmo caminho
para a Rua da Praia, saindo do Mercado e chegando ao Centro Cultural. O “Café A
Brasileira” estava fechado, fiquei olhando a fechada do prédio e senti uma paz
indizível dentro de mim. Cheguei ao Centro Cultural e estava em Porto Alegre de
novo, na Feira do Livro que eu tanto amo, indo dar uma palestra como faço há
mais de vinte anos. Nada doía. Éramos eu e a cidade num domingo quente e
ensolarado, e nada mais.
No dia 4 de novembro do ano passado, na
sessão de autógrafos estavam ele e a minha amigona de toda a vida, a Ana Ana
Luiza De Moraes Vieira, que estava hoje no mesmo lugar comigo ouvindo a minha
palestra. No ano passado, depois da sessão de autógrafos, eu ia para um sarau
literário encontrar com a Karla Melo e com o Samarone Lima. Despedi-me da Ana e
desci com ele para tomarmos uma água antes do sarau. Na porta do prédio
encontrei com o Taylor Diniz que me disse que estava indo ver o Miguel Sousa
Tavares. Não fui ao sarau e não fui à palestra, fui tomar uma água com ele no
“A Brasileira”.
As parcas estavam tecendo, quem sabe
distraídas ou cansadas, tramando tantas malhas ao mesmo tempo. Mas fui eu quem
escolheu. Fui tomar uma água com ele no “A Brasileira”. E nunca me perguntei o
que teria sido da minha vida se tivesse ido ver a palestra do português ou se
tivesse ido ao sarau.
Eu escolhi. Foi uma escolha minha e nada
mais. A vida é assim. E não há outro jeito de vivê-la. Que as experiências tem
prazo de validade e nenhum certificado de garantia.
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